O prefeito Renato Machado, após mais de uma década de lutas, idas e vindas, está sorrindo fácil quando se refere a assinatura do convênio entre a Prefeitura de Hulha Negra e o Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer), ocorrido na última segunda-feira (24), no Palácio Piratini, em Porto Alegre. O fato histórico garante a construção de uma estrada asfaltada no trecho de 2,5km entre a BR-293 e o frigorífico Marfrig/Pampeano.
O prefeito, quando questionado pelo TP sobre uma série de desdobramentos e de como será o empreendimento em si, fez questão de vir pessoalmente até a redação do jornal, em Candiota, para explicar e comemorar a tão sonhada e lutada obra.
LONGA DATA – Renato lembra que o primeiro projeto é anterior a 2010, quando a governadora era Yeda Crusius. Depois, em 2011, numa tentativa com o governo federal, o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), em ofício enviado à Prefeitura, havia enterrado a possibilidade, dizendo que não era possível colocar recursos públicos para beneficiar, especialmente uma empresa. “Mas como cachorro perdigueiro, não perdemos o faro, seguimos em frente, persistindo”, assinala Renato, usando uma metáfora campeira, como é seu estilo.
Ainda, conta ele, no governo estadual de José Ivo Sartori (MDB), foi pedido para mudar o projeto de asfalto para blocos intertravados, o que foi feito, na esperança, mesmo sabendo a quase inviabilidade técnica, da obra sair do papel.
Finalmente, depois de mais uma década, Renato e o governador Eduardo Leite assinaram o convênio, que teve seu extrato já foi publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) nesta quinta-feira (27), habilitando a já dar início ao processo licitatório.
O prefeito fez questão de frisar, que ao longo desse tempo, se aprendeu, conforme ele, algo fundamental na sua visão político-administrativa, que é a união de forças. “Aqui em Hulha, os vereadores destinaram suas emendas impositivas para a pavimentação de ruas da cidade, numa demonstração de união interna. No caso da estrada do Pampeano foi no coletivo do Cideja (Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental dos Municípios da Bacia do Rio Jaguarão), que encontramos as mãos e as forças para que esta obra saísse do papel”, destacou o gestor, evidenciando a importância da união como forma de fazer política.
A OBRA – No total, a obra tem um custo orçado de pouco mais de R$ 5 milhões, sendo R$ 4,3 milhões do caixa do Estado e R$ 760 mil de contrapartida do município. O recurso, segundo o projeto é para fazer a extensão dos 2,5km desde a BR-293 até o pátio do frigorífico, com pista de 7m de largura e 2,5m de acostamento de cada lado, além de toda a sinalização viária horizontal e vertical.
Como já referido em reportagens anteriores, o Pampeano é um grande exportador de carnes para vários países do mundo e segundo a empresa, a obra propicia a abertura de novos mercados como o Japão, que é mais exigente, sendo que a poeira da estrada é um desses empecilhos. A unidade gera, além disso, 1,5 mil empregos diretos para toda a região, além de ser responsável por 50% da arrecadação de Hulha Negra.
PONTE – No trajeto de 2,5km, há uma ponte sobre a sanga Passo da Areia. Uma nova estrutura, conforme o secretário de Administração, Planejamento e Meio Ambiente, Héctor Bastide – que também esteve no TP acompanhando o prefeito e coordena o projeto já há um bom tempo -, não está contemplado nos recursos. “Ela estava no projeto original, mas o Estado cortou”, explica Héctor.
A ponte, do jeito que está não seria um problema em si, mas impõe restrições porque em dias de chuvas intensas a água passa por cima, além de ser estreita, passando apenas um veículo de cada vez. “Um sistema de pare e siga, com sinalização já seria o suficiente, como acontece em vários outros lugares”, ilustra o secretário.
Contudo, o prefeito Renato assinalou que as negociações com o frigorífico Pampeano apontam para que a empresa assuma o valor de R$ 760 mil de contrapartida exigido pelo Estado no convênio. “Em isso de fato acontecendo, o que acreditamos fortemente, nós garantiremos com recursos do município, a construção de uma nova ponte, que atenda mais adequadamente, inclusive com duas mãos e alta o suficiente para não inundar”, destacou o prefeito, informando que uma nova estrutura custaria em torno de R$ 1 milhão.
LICITAÇÃO – A Prefeitura deve iniciar em seguida o processo licitatório, que é o maior de um só objeto da história de 30 anos do município. Conforme o convênio, a obra deverá estar pronta em quatro meses após definida a empresa. O cronograma de desembolso prevê uma primeira parcela para 30 dias após o início das obras e outras três nos sucessivos quatro meses.
DESVIO – No mesmo dia da assinatura do convênio, o município protocolou um pedido para que o Estado libere o tráfego para a chegada ao Pampeano, pela estrada da antiga Fepagro, num trecho de 4,8km, enquanto a obra asfáltica estiver em andamento. Segundo os estudos, fica impossível o trânsito pelo traçado em obras. A aprovação do desvio não compromete a produção no frigorífico.
NOME – O prefeito defende e deve remeter em breve um projeto de lei para à Câmara, pois a estrada é municipal, que o nome da nova rodovia que surge seja em homenagem a José Gomes Filho, que foi o fundador da Charqueada, que depois foi substituída pelo frigorífico Bourbon, depois Pampeano (irlandeses) e agora pelo grupo Marfrig. “Boa parte da vida econômica de Hulha Negra gira em torno da atividade do abate bovino para fins industriais e o José Gomes Filho foi o pioneiro”, justifica.